sábado, 9 de março de 2013

Exumação de D. Pedro I e suas mulheres revela novidades para a história



 Do Site da Revista Galileu

 Por João Mello

Mumificação de Dona Amélia era desconhecida
A História do Brasil está sendo exumada. O corpo de Dom Pedro I e das duas mulheres que ele teve durante a vida foram retirados da cripta em que estavam para serem submetidos à uma análise tão meticulosa quanto à tecnologia atual permite. Esse é um daqueles raros momentos que obrigam os próximos livros de História a serem revistos e reeditados.
Mas o que foi descoberto de tão novo? Bastante coisa. O que mais chamou atenção dos pesquisadores foi o fato de haver uma múmia entre os cadáveres. Dona Amélia, segunda mulher de Dom Pedro, foi mumificada antes de ser enterrada – fato que não consta em nenhum registro histórico até então. Unhas, globos oculares, cabelos, cílios... tudo está ali, tudo tão bem conservado que ela já é apontada como uma das múmias bem preservadas do Brasil. Até o seu útero resistiu ao tempo. Os historiadores creditam a excelente preservação a um pequeno corte na jugular da imperatriz: foi através dele que aromáticos como cânfora e mirra foram despejados, retardando a decomposição. A urna em que ela foi sepultada foi lacrada de maneira tão hermética que os microrganismos simplesmente não foram capazes de deteriorar sua carne.
Arqueóloga Ambiel, trabalhando na exumação
O trabalho, sem precedentes no Brasil, é fruto da obstinação de uma mulher: Valdirene do Carmo Ambiel convenceu os descendentes do imperador a liberarem a exumação em 2010 e desde então vem estudando os corpos no local onde eles estavam enterrados, uma cripta no Parque da Independência, na zona sul de São Paulo. Na apresentação da sua dissertação de mestrado no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, Valdirene mostrou ao mundo o resultado da pesquisa.

Dom  Pedro I
Outro fato curioso é que nosso primeiro imperador não levou para a posteridade nenhum adereço que remetesse no país. Para todos os fins, ele foi enterrado como um militar português: todos os adereços encontrados em seu caixão faziam referência exclusivamente à Portugal. O cadáver de Dom Pedro I também deflagra uma obsessão por velocidade, cavalos e acidentes. Ele apresenta fraturas em quatro costelas, decorrentes de imprevistos com carruagens nas ladeiras do Rio de Janeiro. Dona Amélia passou os últimos 137 anos segurando uma cruz de metal entre os dedos. E Dona Leopoldina, a primeira esposa do monarca, com quem teve sete filhos, não era gordinha como os quadros históricos e o imaginário nacional acreditavam, sua ossatura indica uma pessoa esguia, que ganhou a fama devido às nove gestações seguidas (dois filhos do casal tiveram que ser abortados).

Restos mortais de D. Pedro I sendo examinado
A análise dos corpos no Hospital das Clínicas, em São Paulo, teve ares cinematográficos. O transporte foi feito durante três madrugadas e, chegando ao hospital, os três eram submetidos a sessões de tomografia e ressonância magnética – os médicos até tiveram que preencher uma ficha cadastral pra cada um. Com a repercussão positiva da exumação, o plano é ousar. Os cientistas envolvidos cogitam a possibilidade de analisar o DNA do trio – um instituto americano já foi contactado e o processo deve custar cerca de 40 mil dólares e demorar até 6 meses para ser finalizado. O futuro também guarda a parte mais surreal do projeto: reconstruir os seios da face, a laringe, a faringe, a amplitude do pulmão e a caixa torácica de Dom Pedro I para reconstituir o timbre exato de sua voz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário